MAKING of MIS

 

A mostra MAKING of, será composta por objetos de cenas, figurinos, fotografias, materiais de pesquisa, roteiros, storyboards, cartazes e outros elementos dos filmes catarinenses, que também serão exibidos durante a programação do evento.

Os filmes que compõem a exposição fazem parte do acervo do MIS-SC e foram produzidos com recursos do Funcultural e do Edital Prêmio Catarinense de Cinema.

MAKING of tem o objetivo de divulgar o acervo do Museu, o cinema produzido em Santa Catarina e conseguir transportar para o espaço expositivo o que é visto na tela e também o que não se pode ver nela: o processo de feitura de cada filme.

Os materiais expostos foram cedidos por produtores, diretores – incluindo os de arte e de fotografia – figurinistas e atores.

Filmes que fazem parte da exposição:

Nuvem – Vanessa Sandre

O Pescador de Sonhos – Igor Pitta Simões

Beijos de Arame Farpado – Marco Martins – Vinil Filmes

Diários Daltônicos – Patrícia Monegatto

Espírito de Porco – Chico Faganello e Dauro Veras

Sorria, você está sendo filmado – Chico Caprário

L´amar – Sandra Alves

O Segredo da Família Urso – Cíntia Domit Bittar – Novelo Filmes

Brancura – Giovana Zimermann

Blackouts: a comédia do sinistro – Marco Stroisch

 

Abertura: 3 de novembro, 19h

Visitação: até 4 de dezembro de 2016 (de terça-feira a domingo, das 10h às 21h).

Local: Centro Integrado de Cultura (CIC) – Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5.600 – Agronômica – Florianópolis/SC

 

Exposição MAKING of MIS

Continue Reading

NA PELE – Museu da Imagem e do Som

“Na Pele”, 2012 foi uma exposição retrospectiva, nela estavam fotografias de dois projetos realizados dentro do sistema prisional de Santa Catarina: O lugar do outro ,  com fotografias realizadas no Centro Educacional São Lucas e Escreva a frase que te liberta,  com fotografias realizadas no Presídio Feminino.

“A alma, efeito e instrumento de uma anatomia política: a alma, prisão do corpo” Foucault

Ainda em 2004, na continuação do projeto, que resultou na série de fotografias intitulada O lugar do outro, iniciei um projeto de arte relacional, cuja gestação se estendeu pelo período de um ano, dentro do Presídio Feminino de Florianópolis, frequentar o ateliê de arte coordenado pela professora Liomar Arrouca, uma das poucas atividades criativas que existiam dentro daquele presídio, de estrutura bastante precária, principalmente no sentido de possibilitar uma formação profissional com vias de reintegração socioeconômica. Recordo que a única atividade que aquelas mulheres realizavam era a montagem de grampos de roupas, e as que tinham bom comportamento podiam frequentar a escola de arte. Foi lá que dei início ao projeto Escreva a frase que te liberta. Eu ainda não tinha a tatuagem como foco, o trabalho começou com um caderno em branco, no qual eu me apresentava e convidava as mulheres, que se sentissem motivadas, a escrever suas ideias sobre liberdade. Minha intenção era questionar o sentido de liberdade dentro do ambiente de reclusão.

Uma mulher, em especial, chamada Carmem, destacou-se no interesse pelo projeto e tornou-se a guardiã do caderno, que, na verdade, era como um caderno de assinaturas, daqueles que as adolescentes costumavam fazer, escrevendo depoimentos e passando para outras. Uma prática do meu tempo de adolescência, algo que se perdeu, em tempos de redes sociais. No caderno, eu convidava as mulheres a escreverem sobre seus sentimentos de liberdade. E o resultado foram depoimentos muito significativos, muito fortes. São histórias de perdas e mortes, de amores desfeitos, de desagregação familiar, de submissão e de violência conjugal, que contrastam com o desejo de retornar à vida, aos familiares, principalmente aos filhos.

Aos poucos, eu fui percebendo que as coisas importantes para as detentas estavam escritas na pele, no corpo, que, segundo Foucault (1979), é a superfície de inscrição dos acontecimentos (seja ela prisional, sexual, disciplinar, de exclusão, política, estética, científica, artística, dentre outras).  A inscrição sobre o corpo, no sentido de cravar uma conformação da sua “verdade”, um sinal, uma assinatura.

Por intermédio das tatuagens, os corpos indicavam um mundo que estava além de si, dos seus limites físicos; ele era um suporte intransponível das memórias, das crenças, da opção sexual, dos amores e dos ódios… Passei a fotografar as tatuagens, dando preferência para aquelas realizadas dentro do presídio.

Cada tatuagem remete a uma história, seja o amor declarado à família (“Meu amor por eles é fiel S, L, A”); a irreverência de quem tem pressa de viver (“Só Deus sabe a minha hora!”, e sabe que a “Vida Loka!”; das mulheres homossexuais que vivem seu amor dentro do presídio ou fora dele, mas marcam na pele sua orientação sexual (Eliane, amor verdadeiro, Amor Eterno)”.

Um dia uma mulher me perguntou: “Você quer fotografar a minha tatuagem?”. Ela mostrou a tatuagem de um cachorro bravo com um pedaço de pau na mão, e me contou: “Esse é o meu marido, ele queria que eu tatuasse seu nome no meu corpo, então eu tatuei isso, porque é isso que ele é, ele é um cachorro mau”.

Nas fotos, a identidade literal não foi revelada, porém a identidade adotada, em forma de texto gravado na própria pele, ganhou ênfase, pois a escolha do suporte corpo, revela autonomia intransponível, o próprio corpo como um “campo político”.

“A genealogia foucaultiana é disposicional e topológica, enquanto arte de ordenar os fenômenos corpóreos sob uma ótica da estratégia de forças e de saberes, ao mesmo tempo, exteriores e transversais, já que transpassam os corpos, interpenetrando-os de história”. Silveira e Furlan

Minha experiência durante aquele período de um ano, frequentando o Presídio Feminino de Florianópolis, foi um exercício de “empoderamento comunitário”, pois contei com o apoio da administradora Maria da Conceição P. Orihuela, da psicóloga Elianar Machado, da professora Liomar Arouca e das mulheres em reclusão, especialmente Carmem (Carmelita Julia).

No dia 24 de novembro de 2005, realizamos no Museu da Imagem e do Som, em Florianópolis/ SC, a exposição Escreva a frase que te liberta e um fórum intitulado Sobreliberdade, com o intuito de debater sobre a necessidade de maior investimento na profissionalização das mulheres em reclusão. No fórum foi exibido, em pré-estreia, o filme O cárcere e a rua (2004), da diretora Liliana Sulzbach, que também exibiu seu documentário no presídio feminino, junto com a exposição das fotos que, depois, foram doadas para as pessoas que tiveram suas tatuagens fotografadas.

Assim, o pensamento da arte ativista tornava-se o lugar onde eu poderia exercitar aquela indignação, que havia deixado marcas pelo depoimento de Maria. Precisava pensar em uma dramaturgia para as Marias, não mais só uma, mas todas aquelas violentadas ou agredidas, que se tornam apenas um número nas pesquisas. Ao passar do tempo, em favor da poética, fui desenvolvendo um roteiro ficcional, intitulado “Da Janela”, 2009, que foi exibido na exposição retrospectiva “Na Pele”, 2012.

Em setembro de 2012, a convite da Association Anthropologie et Photographie, o projeto foi apresentado na Universidade Paris 7, por meio de um prêmio de intercâmbio do Ministério da Cultura, como contrapartida, a exposição volta à cena, mas agora no Centro Integrado de Cultura, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), no espaço expositivo do Museu de Imagem e Som de Santa Catarina (MIS/SC). Ler mais: cultura.sc.gov.br.

EXPOSIÇÃO “NA PELE” MUSEU DA IMAGEM E DO SOM MIS

 

 

Continue Reading

O LUGAR DO OUTRO – MUSEU DE ARTE DE SC

O lugar do outro compôs uma mostra coletiva intitulada As palavras e as coisas, que fez parte de um evento em homenagem aos 20 anos da morte de Michael Foucault em 2004. Abordando o sistema prisional, utilizei uma frase do pensador francês, que resumia o sentimento que havia experimentado ao visitar o Centro Educacional São Lucas, a extinta instituição para menores infratores da região metropolitana de Florianópolis, que mais se assemelhava a uma casa de detenção, conforme fotografias da série que leva o nome da exposição  O lugar do outro .  Parte do trabalho teve início durante uma estadia no Rio de Janeiro, quando apresentava a exposição Invólucro, 2004, cujo questionamento era o nascimento e a morte. Abria com uma frase do carioca Vinícius de Moraes: “Outra carne virá. A primavera / É carne, o amor é seiva eterna e forte. / Quando o ser que viveu unir-se à morte / No mundo uma criança nascerá”. A frase escolhida já reservava uma potência premonitória (infância dos mortos), embora não percebida no período.

Figura 1: SÉRIE “O LUGAR DO OUTRO” ACERVO MASC

Era “maio de 2004”, houve uma sangrenta rebelião na Casa de Custódia de Benfica. As mídias jornalísticas abordavam o tema, espetacularizando a tragédia e reforçando o estigma da perversidade dos presos, responsabilizando-os unicamente.  Fragmentei a matéria e coloquei em papeis dobrados, acondicionados em dispositivos (assépticos de acrílico), diante de um nicho (uma janela, uma televisão, uma jaula), nele fixei uma foto que fazia parte da matéria de uma revista, na qual muitos jovens (todos negros e pardos) estavam comprimidos contra uma grade de uma das celas da Casa de Custódia de Benfica (Figura 2).

A intenção era tirar o espectador da zona de conforto, de uma ampla matéria falando quanto custa para os bolsos do contribuinte a “escória da sociedade”. Como no biscoito da sorte “às avessas”, o visitante era convidado a pensar somente sobre o fragmento que escolhera. Num deles havia uma frase de Foucault.

 

Figura 2: Instalação interativa

[…] A animalidade escapou à domesticação pelos valores e pelos símbolos humanos; e se ela agora fascina o homem com sua desordem, seu furor, sua riqueza de monstruosas impossibilidades, é ela quem desvenda a raiva obscura, a loucura estéril que reside no coração dos homens.  (FOUCAULT, 2004, p. 18).

 

Porta do Centro Educacional São Lucas, instalada dentro da exposição O Lugar do Outro. 

O objetivo era cercar o espectador, proporcionar uma imersão em uma “instalação”, em um espaço arquitetônico, para alertar a que ponto chega nossa história de exclusão social. Ao fazer uma aproximação da arquitetura com o cinema, Benjamin fala da arquitetura como “protótipo de uma obra de arte”, com a vantagem de uma recepção intuitiva, distraída e coletiva. O filósofo estava atento à necessidade de novas formas de percepção, não apenas visual, através da contemplação. E, quando associa a arquitetura ao cinema, reivindica uma habilidade de recepção tátil, porque ocorre uma imersão física desse corpo ao lugar, que, no exemplo, era então O lugar do outro. A intenção era assumidamente “capturar” esse espectador (atraí-lo para contar algo relevante), porém utilizando-se de outros meios (não esperando o recolhimento dele diante de uma obra), provocando-o. “Aliás, como para cada indivíduo existe a tentação de se furtar a tais tarefas, a arte conseguirá resolver as de maior peso e importância se conseguir mobilizar as massas. Concretiza-o no cinema atual.” (BENJAMIN, 1992, p.110). Essa ligação leva a um indício social importante, quando bem empregado conceitualmente, porém é evidente que o pensador referia-se ao “suporte cinema”, que é diferente das outras artes, pois a potencialidade do aparelho cinematográfico altera a relação das massas com a arte, como afirma: “reacionários diante de um Picasso, transformam-se nos mais progressistas frente a um Chaplin” (BENJAMIM, 1992, p.100). A condição arquitetônica de imersão propiciada pelo cinema promove uma vivência, uma ligação íntima com a atitude do observador “especializado”, diz Benjamin, que, embora crítico, não deixa de ser um examinador distraído.

Continue Reading

“Linhas, cordas ou cordões umbilicais”

MIS Florianópolis – SC de 12 – 29 de agosto de 1999

Escolhi a leveza

para falar da dor.

A liberdade

para falar das amarras que me seguem,

de um prenúncio nos postes

e muros de um Grande Campo.

Tão cedo você se foi!

Era primeiro de maio,

e a pá não me deixa esquecer.

Que ironia visual!

Eu só precisava três passos

para te acompanhar.

Tão cedo pinçado de mim!

Só precisava três passos

para te alcançar.

No cerrado, escolheu a coragem

para enfrentar as “sete covardias”.

E eu, a leveza,

para falar do peso da tua falta.

Após quinze anos escolho a beleza,

para falar do horror

que te levou…[1]

[1] A poesia foi escrita durante uma especialização  em arte contemporânea, onde, provavelmente,  eu buscava respostas para meus questionamentos e indignações, quanto ao trágico falecimento do meu pai.  A poesia fez parte da exposição “Linhas, cordas ou cordões umbilicais”, que permeava reflexões  sobre a vida e a morte.   

Continue Reading